Suicídio em Joinville
O suicídio é um fenômeno encontrado nas diversas culturas desde a Antigüidade até os dias atuais. Alguns questionamentos circundam esse tema: suicídio é um ato consciente ou inconsciente?; o que de fato é essa morte por suicídio?; o que leva um indivíduo a cometer suicídio? Várias são as ciências que abordaram esse assunto, apesar de serem pouquíssimas as publicações científicas.
Recentemente, ao apresentar esse tema em monografia de conclusão de curso, me deparei com falta de material teórico-científico. Parece que a restrição de publicações acerca do suicídio está relacionada ao fato de o ser humano não se envolver na busca daquilo que não pode explicar.
O psiquiatra Karl Menninger já observava isso em 1939: "Há certos assuntos a respeito dos quais muitas vezes falamos em tom de brincadeira, como que para evitar a necessidade de discuti-los seriamente. O suicídio é um deles". E ainda: "Há romances, peças e lendas em abundância que envolvem o suicídio - suicídio em fantasia. No entanto, é surpreendentemente pequena a literatura científica que trata disso".
A partir de Freud, com sua teoria psicanalítica, outra leitura é feita com a ênfase no inconsciente. Esse elemento é de fundamental importância para essa teoria e contribui imensamente para a compreensão do suicídio.
Mas, afinal de contas, o ato suicida é consciente ou inconsciente? Depois de percorrer os caminhos para concluir meu trabalho, que - ressalto -, deve ser entendido como desafio que se inicia, percebe-se que o fenômeno do suicídio ocorre nas duas possibilidades.
É um ato consciente quando o sujeito faz constantes ou repetidas tentativas e não se reconhece nelas, embora deseje a morte. A forma consciente de cometer o suicídio é aquela em que o indivíduo, diante de variáveis que a vida ou ele mesmo se impôs, prefere não se implicar para promover as mudanças necessárias. Com isso, a alternativa escolhida é a de tirar a própria vida.
Kierkegaard, em seu livro "O Desespero Humano", aponta para as conseqüências do homem frustrado por anseios não realizados: "Assim, quando o ambicioso que diz ser César ou nada, não consegue ser César, se desespera. Mas isso tem outro sentido: é por não ter se tornado César que ele já não suporta ser ele próprio".
Além da parte teórica, um trabalho de campo foi desenvolvido no Instituto Médico Legal (IML) de Joinville para avaliação do índice de suicídios cometidos no município e região. O levantamento de dados estatísticos compreende o período de janeiro de 1993 a setembro de 2000. Foram registrados 225 suicídios, praticados por 187 homens e 29 mulheres, com idade inferior a 30 anos (28 casos), entre 20 e 50 anos (120 casos) e acima de 50 anos (55 casos). A idade mínima constatada foi de 13 anos e a máxima, de 87.
Quanto à "causa mortis", o enforcamento é o meio mais utilizado (110 suicídios), vindo em seguida arma de fogo (39 casos). Também aparecem arma branca, intoxicação, acidentes provocados por fogo, em que o corpo fica carbonizado, queda de penhascos, entre outros.
O suicídio, sobretudo, ainda é visto como algo distante, como algo que não nos afeta. E quando se comenta alguma coisa a respeito, ouvem-se frases do tipo: "Suicida-se quem quer e porque quer". "Ninguém é obrigado a suicidar-se". Esses e outros comentários são feitos num tom simplório, denunciando desrespeito à vida humana.
Trata-se o suicídio de fenômeno intimamente ligado não somente a quem se mata, mas também a cada um de nós, já que o aspecto "destrutivo" é um dos pólos da ambivalência do homem, vocacionado para outros fins que não a autodestruição.
Mas a questão ainda circunda a morte. Para que negligenciá-la, impossibilitando sua compreensão? Parece que a dificuldade que temos para lidar com a morte está relacionada à incapacidade de lidarmos com a vida. Então, fica a indagação: por que tanta resistência em não querer saber, permanecendo assim na ignorância?(Márcio Francisco de Moura)
Fonte: http://an.uol.com.br/2000/dez/07/0opi.htm
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