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Suicídio - conhecer para prevenir



Dossiê Santa Catarina

Vítimas de si, suicidas deixam rastro de dor

Entrevista: "Hoje eu sei que tudo se resolve"

Jaraguá contabiliza três mortes apenas em janeiro

Depressão e estresse na origem do problema

Psiquiatra identifica doença mental na maioria dos casos

Moral rígida herdada de colonizador

Perfil definido no Alto Uruguai

Voz amiga e anônima ajuda a reencontrar esperança

Fonte: http://an.uol.com.br/2000/fev/06/0ger.htm

Suicídio em Joinville

Fonte: http://an.uol.com.br/2000/dez/07/0opi.htm


Vítimas de si, suicidas deixam rastro de dor

Florianópolis - Vítimas de si mesmos, os suicidas não destroem apenas a própria vida, mas afetam também a família, os amigos e a comunidade, deixando um rastro de dor, angústias e questionamentos nos que ficam. E não são poucos os casos de suicídio em Santa Catarina, embora o silêncio seja a principal defesa dos que assistem, geralmente impotentes, um ente querido acabar com a própria existência. Apenas no último final de semana, três enforcamentos abalaram Concórdia, no Alto Uruguai. Em Jaraguá do Sul, foram registrados três casos em janeiro. Fora as tentativas frustradas, que muitas vezes nem chegam a constar nos autos policiais.

A Polícia Civil registrou em todo o Estado, durante o ano passado, 343 boletins de ocorrência sobre suicídios consumados, além de 68 sobre tentativas de suicídio. Desses 343, 280 (ou 81,63%) referem-se a homens, 56 (16,32%) a mulheres e sete (1,92%) a menores de idade independente do sexo. As tentativas correspondem a 19,82% do total de suicídios consumados.

Em 1998 os números foram mais alarmantes. No total houve 449 casos e 86 tentativas. Entre os consumados, 352 vítimas eram homens, 73 mulheres e 14 adolescentes. No mesmo período, 39 homens, 33 mulheres e 14 adolescentes tentaram se matar e não conseguiram.

Em todos os meses, os casos de suicídios masculinos são muitas vezes mais freqüentes do que os femininos: em dezembro de 1999, por exemplo, mataram-se 12 vezes mais homens do que mulheres.

Para quem está em desespero e vê no fim da própria vida a solução para os problemas, são poucos os lugares onde pedir socorro. A Secretaria Estadual da Saúde não conta com um atendimento específico aos suicidas em potencial, embora esteja trabalhando desde o final do ano passado no redesenhamento do serviço de saúde mental em Santa Catarina. A regionalização do atendimento, o treinamento e capacitação dos profissionais e a formatação do Instituto de Saúde Mental (um centro de tratamento, referência e pesquisa na área) são as diretrizes básicas do serviço, que é prioridade em 2000. "Não tínhamos uma proposta de saúde mental", diz o secretário estadual de Saúde, Eni Voltolini.

No momento a única opção é o Centro de Valorização da Vida (CVV), que tem unidades apenas em Florianópolis, Blumenau e Joinville e luta contra a pouca infra-estrutura para atender o público. Na Capital, o centro funciona pelo telefone 222-4111. É a chamada linha-tronco, com atendimento seqüencial (se um aparelho está ocupado, a ligação cai no aparelho seguinte). Acontece que só existe um aparelho seguinte, além do principal. A procura é grande e as linhas, portanto, congestionadas. A reportagem de A Notícia fez oito tentativas de fazer contato telefônico. Em vão. Para falar com o CVV foi preciso ir pessoalmente na rua Victor Konder, onde funciona o atendimento. (Reportagem de Marco Antonio Zanfra)

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Entrevista: "Hoje eu sei que tudo se resolve"

Blumenau - Antonio é o nome fictício de um jovem de 32 anos que tentou suicídio em 1997, por achar que a morte era a única solução para os problemas de sua vida. Só descobriu as alternativas quando acordou no hospital, com familiares e amigos preocupados com sua saúde. As marcas nos pulsos vão lembrar para sempre a vergonha desta fraqueza. Mas são um sinal de que há sempre uma nova chance para os que buscam. Ele deu a seguinte entrevista ao jornal A Notícia:

A Notícia - O que levou a tentar suicídio?
Antônio - Eu tive problemas de estrutura familiar desde a infância. Meu pai era alcoólatra, não havia diálogo em casa. Depois eu assumi minha tendência homossexual. Tudo foi somando na minha cabeça e eu virei um maníaco-depressivo. Não confiava em ninguém, fiquei perdido. A única saída que eu via era partir dessa vida.

AN - E o que você fez?
A -Eu tentei suicídio. Foi uma explosão. Cinco minutos de bobeira. Cortei profundamente um pulso com uma lâmina, perdi muito sangue e fui desacordado para o hospital.

AN - O que aconteceu quando você acordou?
A - Me senti o último dos mortais, um egoísta com uma venda nos olhos. Não percebi que meu ato não estava só me prejudicando, mas também a minha família e meus amigos, que sofreram. Infelizmente tive de passar por isso para aprender a viver.

AN - Só então você procurou ajuda?
A - Só depois disso eu vi que podia, sim, conseguir ajuda. Um amigo me indicou um psicólogo e eu fui. Comecei um tratamento que eu continuo até hoje e acho que superei a depressão. As neuras que eu tinha desapareceram com o tratamento

AN - O que você pensa sobre seu futuro?
A - Eu quero viver. Eu tenho um grande vício pela vida. A única coisa que penso é aproveitar o tempo que eu perdi naquela fase. Hoje sei que todos têm dificuldades na vida, mas que tudo se resolve. (Marli Rudnick)

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Jaraguá contabiliza três mortes apenas em janeiro

Jaraguá do Sul - Do ano passado até agora, seis pessoas se mataram em Jaraguá do Sul. Somente em janeiro a polícia registrou três casos de suicídios ocorridos no município, conforme consta no livro de boletim de ocorrências da delegacia da comarca. O primeiro suicídio foi registrado no dia 11 de janeiro. A vítima, um homem de 53 anos de idade, era casado, tinha filhos e uma vida aparentemente normal. Ele enforcou-se na estrebaria que fica nos fundos da casa com uma corda de nylon. As outras duas vítimas deste ano também se enforcaram.

"Se a média continuar assim, teremos um ano trágico", analisa o escrivão da polícia, Orlindo Júlio Quilante. De acordo com ele, os adolescentes e os idosos do sexo masculino são os que mais se matam, mas os suicidas deste ano eram todos adultos. Entre as pessoas que se mataram ano passado, apenas uma era do sexo feminino.

Os familiares de um dos suicidas ainda não conseguem compreender o que o motivou. "Ele era religioso, tinha muitos amigos e levava uma vida normal", afirma o filho, que ainda não se conforma com a atitude do pai, aparentemente sem motivo algum.

Segundo a esposa deste suicida, o marido levantou cedo, como de costume, e disse que iria até os fundos do terreno ver algumas coisas. Ao invés disso, ele se dirigiu até a estrebaria, onde foi encontrado pela própria esposa e pela netinha deles. "Jamais vou esquecer aquela cena. Até hoje não conseguimos compreender o que se passou na cabeça dele. Ele era alegre, tinha muitos amigos e nenhum problema grave. Nós sempre nos demos bem. Nunca imaginei que ele teria coragem para uma coisa dessas", afirma a viúva.

Ela lembra que o fato ocorreu entre 6h30 e 7h30 da manhã. "Na noite anterior nós conversamos bastante, até tarde, e fomos dormir tranqüilos, como sempre", relembra o único filho do casal. (Maria Helena de Moraes)

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Depressão e estresse na origem do problema

Blumenau - Os motivos que levam uma pessoa a tentar suicídio são muitos, mas, em todas elas, a desesperança é o sinal mais visível. É quando os problemas (reais, ou não) começam a dominar a imaginação, fazendo com que a vítima desista de lutar contra o mal que a ameaça. Quem sobrevive e busca tratamento dá seu depoimento dramático nos consultórios de psicólogos e psiquiatras. Pessoas que pensam em suicídio para punir a si mesmas e ao mundo, ou dizem que precisavam morrer porque esta era a única saída.

Segundo o psicólogo Mauri da Silva, de Blumenau, é difícil traçar um perfil biológico nas estatísticas de suicídio, porque depressão e estresse são problemas que atingem todas as idades (inclusive crianças) e sexos, independente da condição social e cultural. Mas numa avaliação psicológica, as principais vítimas de si mesmas são pessoas com baixa auto-estima, com pouca resistência à frustração, e que depositam toda sua vida sobre alguém ou alguma coisa, e se vêem desesperadas quando há um rompimento.

As causas mais identificadas são os problemas financeiros, a perda de entes queridos por morte ou rompimento, depressão, estresse e problemas de auto-estima. A ingestão de medicamentos predomina nas formas de tentativas. O psicólogo explica que é difícil identificar uma tendência suicida no convívio familiar ou social. "Porque a mãe ou os amigos sempre vêem um lado bom daquela pessoa, e há uma tendência dela esconder ou 'enganar' seu verdadeiro sentimento", explica.

Porém, alguns sinais de alerta podem ser observados, como o isolamento, comportamento depressivo sem motivo aparente, alteração de comportamento (agressividade ou apatia) e negativismo. "A negação é uma tendência muito comum em pessoas neste estado", diz Mauri. "Na fuga de si mesma e da realidade, a pessoa nega o mundo e seu próprio eu".

Ele orienta que a melhor prevenção quando há sinais de risco é procurar ajuda na psicoterapia ou psiquiatria. Tentativas caseiras de diálogo para contornar a situação podem agravar o problema, porque de acordo com o especialista, se a pessoa chegou a desenvolver uma idéia desesperada suicídio, é porque não sentiu segurança ou não encontrou a solução na família.(Marli Rudnik)

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Psiquiatra identifica doença mental na maioria dos casos

Jaraguá do Sul - Para o psiquiatra Maurício Bogo, o suicídio não tem nada a ver com normalidade e 98% dos casos têm histórico prévio de doença mental. Na avaliação do médico, o primeiro sinal de alguma coisa não está bem aparece na forma de idéias. "Quando alguém pensa em se matar é sinal que alguma coisa não está bem", avisa o profissional, que tem 5% de sua clientela formada por pacientes com tendências suicidas.

Ele esclarece que grande parte dos pacientes com tendência suicida está em tratamento em função de alguma tentativa frustrada.

Ele concorda que a depressão parece ser a principal causa de suicídio. "Pode-se dizer que o suicídio e as idéias relacionadas a auto-destruição são sintomas da depressão", afirma o médico. Ele explica que pessoas com família constituída, emprego, vida social e emocional satisfatória estão menos sujeitas a depressão e em conseqüência, têm menos chances de cometer loucuras. Além da depressão, o médico aponta também as doenças mentais, como a esquizofrenia, que podem causar delírios. Em Jaraguá do Sul, o perfil é composto por adultos, sexo masculino e aparente tranqüilidade econômica e emocional.

Na avaliação do padre Nivaldo Oliveira Souza, a falta de confiança em Deus pode ser uma das causas que leva alguém a atentar contra a própria vida, que, na doutrina católica, não pertence ao homem. "O homem apenas admistra a vida dada por Deus", esclarece.

Ele afirma, no entanto, que a Igreja não julga e tampouco condena essas atitudes, que manifestam uma grave revolta espiritual, vontade de chamar a atenção sobre si mesmo, surto psicológico, ato de desespero e perturbação mental. "A Igreja vê as causas e tenta orientar e anular os motivos. Mas nem sempre isso é possível", comenta o padre. Ele conta que ano passado ficou surpreso ao saber que um conhecido, freqüentador assíduo da Igreja, crente em Deus, casado e aparentemente sem preocupações maiores havia cometido suicídio. "Fiquei triste e chocado, mas acredito que ninguém se mata sem motivo", finaliza o padre.

A Igreja costumava negar o direito a enterro em cemitério cristão aos suicidas sob a alegação de que tirar a própria vida seria o mesmo que atentar contra Deus. Atualmente esse costume não é mais praticado e todos os mortos são tratados da mesma forma, pelo menos no que se refere ao local onde podem ser enterrados. (Maria Helena de Moraes)

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Moral rígida herdada de colonizador

Concórdia/Arabutã - A colonização germânica ajudou a trazer progresso para o Alto Uruguai de Santa Catarina. Mas também trouxe uma herança moral que trata os fracassos da vida com muito rigor. Uma monografia de conclusão de curso, feita em 96 pela acadêmica de Enfermagem da Universidade do Contestado (UnC) Cláudia Berta, concluiu que a maior parte dos suicídios na região envolve descendentes de alemães.

Em Arabutã, município de 4,2 mil habitantes no qual 99,8% dos moradores possuem o sangue germânico, já chegaram a ser registrados cinco suicídios em uma semana. "Isso há cerca de 15 anos. Hoje, com os programas de auxílio, tudo mudou", garantiu o prefeito David Moretto. No ano passado foi registrado apenas um suicídio em Arabutã.

Já em Concórdia, a delegacia atendeu 16 suicídios. "Os suicídios acontecem muito próximos. Parece que um incentiva o outro", afirmou o delegado regional, Clomir Badalotti.

O suicida só não imagina que a sua autopunição vai doer em que ficou vivo. Maria Wilsmann, 43 anos, ficou sem o marido, Almiro Wilsmann, no dia 3 de janeiro de 1998. Ele enforcou-se aos 42 anos e foi encontrado no paiol da propriedade, em Concórdia, pela filha menor. "Ele ficou desgostoso com negócios que não deram certo e passou a beber bastante. Mas nunca imaginei que ele fosse se matar", disse Maria.

Maria sofreu de depressão até a metade de 99. Hoje trabalha como empregada doméstica e tenta reconstruir a vida, juntamente com os três filhos. "Tudo ficou mais difícil. Só que não se pode desistir da vida". (Jean Carlos de Souza)

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Perfil definido no Alto Uruguai

Concórdia - A maior parte dos suicídios que ocorrem no Alto Uruguai possui uma história semelhante. De acordo com a estudo realizado pela ex-acadêmica da UnC e com os dados levantados pela Delegacia Regional de Polícia, o suicida geralmente é de origem alemã ou italiana, homem, com poucas condições financeiras e baixa escolaridade. O método mais utilizado é o enforcamento porque, na visão dos suicidas, "não provoca sujeira nenhuma".

Geralmente os suicidas deixam um bilhete explicando porque se mataram. Nessas mensagens aparecem com grande freqüência a descrição de problemas financeiros e familiares.

Os suicidas mais jovens relatam ainda decepções amorosas. A faixa etária também chama a atenção. Os homens suicidam-se com freqüência após os 40 anos. A adolescência, o início da juventude e a velhice são outras idades em que o suicídio é comum.

Violência

O suicídio de adolescentes comumente é violento. Eles usam armas de fogo na maioria das vezes. Há ainda casos de envenenamento com produtos químicos ou remédios.

Nos adolescentes aparece com destaque a banalidade do suicídio. Problemas que para as pessoas em geral resolvem-se com facilidade, no caso dos adolescentes suicidas parecem insolúveis. Essa falta de perspectiva diante da vida é a motivo que detona o gatilho. (Jean Carlos de Souza)

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Voz amiga e anônima ajuda a reencontrar esperança

Florianópolis - "A pessoa que quer se matar não quer se matar; ela quer fugir. E e aí que nós entramos com nosso trabalho", diz o coordenador de divulgação do Centro de Valorização da Vida (CVV), Sebastião (que prefere não revelar todo o nome). Ele admite o paradoxo de sua afirmação, mas explica que o suicídio também é uma questão de múltiplas faces. "Os corpos de muitas pessoas que tentaram e conseguiram se matar foram encontrados como se elas estivessem tentando chegar ao telefone", revela. Só que nestes casos o arrependimento chegou tarde demais.

O CVV - talvez o único socorro organizado para quem está em vias de chegar ao suicídio - tem três unidades em Santa Catarina, a mais antiga (há 15 anos) em Blumenau. No dia 9 de março, a unidade de Florianópolis vai completar 10 anos. Em Joinville, funciona há quatro anos. A unidade da Capital recebe de 10 a 20 ligações por dia (com dois telefones, seqüenciais, de número 222-4111), segundo Sebastião, além de realizar diariamente um ou dois atendimentos pessoais. "Fazemos de 600 a 800 atendimentos por mês."

"Como não existe um outro canal (para os suicidas em potencial), enfrentamos todos os tipos de situação, todos de maneira muito respeitosa: desde uma criança que teve notas ruins e tem medo de voltar para casa, até um velhinho deprimido que ficou em casa porque a família não quis levá-lo para a praia", afirmou. Em tempos de crise financeira, o CVV recebe muitas ligações de pessoas com problemas econômicos. "Elas somatizam um monte de situações, sofrem muita carga e muita cobrança da sociedade e precisam de uma escapatória", contou Sebastião. (Marco Antonio Zanfra)

Fonte: http://an.uol.com.br/2000/fev/06/0ger.htm

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Suicídio em Joinville

O suicídio é um fenômeno encontrado nas diversas culturas desde a Antigüidade até os dias atuais. Alguns questionamentos circundam esse tema: suicídio é um ato consciente ou inconsciente?; o que de fato é essa morte por suicídio?; o que leva um indivíduo a cometer suicídio? Várias são as ciências que abordaram esse assunto, apesar de serem pouquíssimas as publicações científicas.

Recentemente, ao apresentar esse tema em monografia de conclusão de curso, me deparei com falta de material teórico-científico. Parece que a restrição de publicações acerca do suicídio está relacionada ao fato de o ser humano não se envolver na busca daquilo que não pode explicar.

O psiquiatra Karl Menninger já observava isso em 1939: "Há certos assuntos a respeito dos quais muitas vezes falamos em tom de brincadeira, como que para evitar a necessidade de discuti-los seriamente. O suicídio é um deles". E ainda: "Há romances, peças e lendas em abundância que envolvem o suicídio - suicídio em fantasia. No entanto, é surpreendentemente pequena a literatura científica que trata disso".

A partir de Freud, com sua teoria psicanalítica, outra leitura é feita com a ênfase no inconsciente. Esse elemento é de fundamental importância para essa teoria e contribui imensamente para a compreensão do suicídio.

Mas, afinal de contas, o ato suicida é consciente ou inconsciente? Depois de percorrer os caminhos para concluir meu trabalho, que - ressalto -, deve ser entendido como desafio que se inicia, percebe-se que o fenômeno do suicídio ocorre nas duas possibilidades.

É um ato consciente quando o sujeito faz constantes ou repetidas tentativas e não se reconhece nelas, embora deseje a morte. A forma consciente de cometer o suicídio é aquela em que o indivíduo, diante de variáveis que a vida ou ele mesmo se impôs, prefere não se implicar para promover as mudanças necessárias. Com isso, a alternativa escolhida é a de tirar a própria vida.

Kierkegaard, em seu livro "O Desespero Humano", aponta para as conseqüências do homem frustrado por anseios não realizados: "Assim, quando o ambicioso que diz ser César ou nada, não consegue ser César, se desespera. Mas isso tem outro sentido: é por não ter se tornado César que ele já não suporta ser ele próprio".

Além da parte teórica, um trabalho de campo foi desenvolvido no Instituto Médico Legal (IML) de Joinville para avaliação do índice de suicídios cometidos no município e região. O levantamento de dados estatísticos compreende o período de janeiro de 1993 a setembro de 2000. Foram registrados 225 suicídios, praticados por 187 homens e 29 mulheres, com idade inferior a 30 anos (28 casos), entre 20 e 50 anos (120 casos) e acima de 50 anos (55 casos). A idade mínima constatada foi de 13 anos e a máxima, de 87.

Quanto à "causa mortis", o enforcamento é o meio mais utilizado (110 suicídios), vindo em seguida arma de fogo (39 casos). Também aparecem arma branca, intoxicação, acidentes provocados por fogo, em que o corpo fica carbonizado, queda de penhascos, entre outros.

O suicídio, sobretudo, ainda é visto como algo distante, como algo que não nos afeta. E quando se comenta alguma coisa a respeito, ouvem-se frases do tipo: "Suicida-se quem quer e porque quer". "Ninguém é obrigado a suicidar-se". Esses e outros comentários são feitos num tom simplório, denunciando desrespeito à vida humana.

Trata-se o suicídio de fenômeno intimamente ligado não somente a quem se mata, mas também a cada um de nós, já que o aspecto "destrutivo" é um dos pólos da ambivalência do homem, vocacionado para outros fins que não a autodestruição.

Mas a questão ainda circunda a morte. Para que negligenciá-la, impossibilitando sua compreensão? Parece que a dificuldade que temos para lidar com a morte está relacionada à incapacidade de lidarmos com a vida. Então, fica a indagação: por que tanta resistência em não querer saber, permanecendo assim na ignorância?(Márcio Francisco de Moura)

Fonte: http://an.uol.com.br/2000/dez/07/0opi.htm

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