Depressão e suicídio escolhem idade?
Vânia Fortuna
Psicanalista e conselheira em dependência química na clínica Psicomed
Qualquer jovem pode se sentir irritado ao ouvir frases do tipo "como você cresceu!", ou "quer passar perto da lua, é?". Apesar de ditas com bom humor, irritam a quem as recebe, porque o adolescente, mais do que ninguém, sabe das transformações por que seu corpo e sua personalidade está passando. E, geralmente, encara essas transformações com intolerância e reservas. Se sente inseguro, desengonçado e estranho. E desta forma, muitas vezes, nem conseguem perceber o momento mágico que vivem. E quanto adultos, depois, sonham voltar a fase das descobertas, do encanto, e repleta de emoções fortes e aventuras.
O jovem tem oportunidade de despertar para novas descobertas e experiências e de viver sem preocupações. Mas não é só esta a realidade. No geral, ele se encontra dividido entre os mais diversos conflitos íntimos. É difícil se identificar, se agrupar, acham as crianças chatas e infantis e os adultos perseguidores e atrasados. Então, ele forma grupos ou se isola. Mesmo que a juventude dê a impressão de liberdade emocional, o jovem sofre muito por não conseguir entender, nem se sentir entendido. Confrontado com a realidade e o cotidiano, o mundo se revela para ele, como fonte de angustias e insegurança.
É neste momento que o adolescente quer firmar valores. E quando encontra dificuldades nisto, entra em conflito e vai em busca de novos valores. Outros aspectos marcantes desta fase são o despertar da sexualidade, a luta por causas nobres e ideais, a procura de explicação para as coisas do mundo e a busca ou negação de crenças religiosas. Percebemos então, claramente, o idealismo, a audácia, a mudança, a curiosidade do adolescente se opondo às frustrações, impedimentos, dificuldades. Então, ele se vê envolvido por emoções profundas e ainda desconhecidas para ele. Age e sente de forma incoerente e nem sabe porque. E se sente só, muito só.
Passa, então, facilmente do riso às lagrimas, da alegria à tristeza. E da tristeza, muitas vezes à depressão. Que chega, se instala, é silenciosa e perigosa. E cala. Sufoca. E mata! Porque faz querer morrer.
A depressão pode se manifestar de várias formas. Os sintomas são variados e até em uma mesma pessoa vem diferente de u ma crise para outra. Mas é preciso atenção dobrada com um adolescente que manifeste:
· Tristeza e/ou irritabilidade constante;
· Cansaço, desânimo;
· Baixa estima;
· Ansiedade, indecisão e insegurança;
· Alteração de sono e/ou apetite;
· Perda do prazer nas atividades habituais;
· Dificuldades escolares;
· Dificuldades de concentração;
· Sintomas físicos persistentes, dores crônicas, queixas constantes;
· Idéias de inutilidade, morte e suicídio.
É um grito! De socorro! Imediato!
Muitas pessoas confundem depressão com tristeza, entrega. A tristeza faz parte da vida psicológica de qualquer ser humano que em algum período passe por estresse, perdas ou dificuldades. Mas quando passa da tristeza, modifica o comportamento e diminui o funcionamento da pessoa, temos que pensar em depressão. Em doença. Que precisa de tratamento. Porque nas profundezas de todo tipo de depressão existe o desencanto pelas emoções e alegrias da vida.
"O suicídio entre jovens representa o ápice da insatisfação, representa uma solução desesperada para fugir da depressão." O motivo aparente de um adolescente suicida é apenas o último fator de uma série de causas que já eram sinais de alarme. O "eu" de quem se suicida sente-se naquele momento, fragilizado ao ponto de ser dominado pela instinto da morte.
"Tinha tanto para dizer...mas a quem?" (M., 13 anos)
"...está tudo horrível. Não sirvo mesmo para nada." (T.M.M., 17 anos)
"...eu não fiz isto. Mas ninguém acredita em mim." (F.A.F., 13 anos)
Pensando nos sintomas descritos nos relatos acima, podemos até nos lembrar de já termos escutado em nosso meio de convivência, frases semelhantes como "...estou cansado da vida...meus pais estariam melhor sem mim..." .
É importante dar atenção a estes sinais de alerta, pois muitas vezes, por observação e participação na vida do outro, ajudamos para que ele reencontre a alegria e o sentido da vida.
Escutar! Sempre! E aí pode-se orientar filhos, alunos, amigos, parentes, vizinhos.
Os motivos que levam adolescentes ao suicídio são vários. A principal causa da autodestruição é a incapacidade de se ajustarem às regras e padrões da sociedade.
Freud, por exemplo, achava que a civilização eliminou a vida instintiva do homem, vindo daí sua dificuldade em afirmar-se individualmente no grupo, quase sempre hostil às chamadas excentricidades de cada um. Em seus estudos, concluiu que Thanatos (morte em grego) estaria em luta constante contra o instinto oposto.
Eros (a personificação do princípio de prazer, responsável pela vida). Desta forma, o suicídio ocorre, quando o amor, tendo perdido temporariamente seu poder, não pode opor-se ao instinto de morte.
O suicídio é, sem dúvida, a mais dramática forma de autodestruição, uma negação total à vida e aos seus prazeres e atinge no nível do bom senso, as raias do absurdo.
Sempre chocam. Impressionam. E até por isso alguns episódios ficaram historicamente registrados e tragicamente lembrados: os ataques suicidas dos "camicases", na Segunda Guerra Mundial e os monges budistas que transformaram-se em tochas humanas, para protestar contra a Guerra do Vietnã. Mas ainda que aleguem "causas nobres", são sentimentos fortes e incontidos de raiva, medo e angústia que os destruíram.
De acordo com Vanderlei Danielski, para o adolescente, as várias formas de expressão do gesto suicida constituem outros tantos conteúdos ou modos de comunicar aquilo que ele pode exprimir naquele momento:
- suicídio como fuga de um a situação considerada insuportável pelo sujeito;
- suicídio em sinal de luto pela perda de um componente da personalidade ou de um modelo de vida;
- suicídio como castigo para expiar um erro real ou imaginário;
- suicídio como delito, arrastando na morte uma outra pessoa;
- suicídio como vingança ou punição, a fim de suscitar remorso em outras pessoas e fazer cair sobre elas o repúdio da comunidade;
- suicídio como pedido e chantagem, visando pressionar alguém;
- suicídio como sacrifício e modo de atingir um valor ou estado considerado superior;
- suicídio como brincadeira, para pôr a si mesmo à prova;
- suicídio por desgosto ou crise existencial;
- suicídio como saída natural para uma conduta delinqüente;
- suicídio como gesto heróico.
E não se pode deixar de acrescentar, o suicídio como tentativa de escapar aos horrores da depressão.
Mas, diante da brutalidade do assunto e do desfecho, sabemos que existe luz no túnel, e não só no fim dele. Isto porque, é crescente o nível de observação e informação apresentados por parte de líderes espirituais, professores, pais, vizinhos parceiros e amigos; além dos profissionais de saúde, para as manisfestações de transtornos psíquicos manifestados pelos jovens. Que devidamente observados e reconhecidos, são encaminhados para tratamento adequado. Pode ser esta a ajuda de que precisam. Pode ser este o eco da resposta que buscam. Ajuda!
"O medo de quem navega é sempre a terra" (Amir Klink)
Fonte: Acessa.com Juiz de Fora, 09/01/2004
http://www.jfservice.com.br/viver/arquivo/dicas/2003/03/31-Vania/
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