Cerca de 24 mil pessoas com comportamentos para-suicidas
“Os suicidas são loucos?”, “O suicídio é pecado?”, “Falar de suicídio encoraja o acto?”, “Como saberei se alguém com quem me preocupo tem pensamentos suicidários?” — estas são algumas das questões colocadas no site da Sociedade Portuguesa de Suicidologia, aberto oficialmente no passado dia 1 de Março. Os preocupantes números registados a nível nacional, em que anualmente se suicidam cerca de 600 pessoas e talvez 24000 protagonizem comportamentos para-suicidas, levaram à criação do sítio "http://www.spsuicidologia.pt".
Como refere o Presidente da Sociedade Portuguesa de Suicidologia, Carlos Saraiva, o site começou a ser desenhado em Setembro de 2002. “Houve um anúncio oficial na Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Suicidologia em Outubro de 2002. A construção do site vem desde aí, mas foi aberto oficialmente no dia 1 de Março de 2003”.
O objectivo “é apresentar aos media e às pessoas mais interessadas na matéria da suicidologia informação variada sobre os comportamentos suicidários”. Inclui, entre outras aspectos, dados epidemiológicos, estatísticos, quer sobre o que se passa em Portugal, quer sobre o que se passa no mundo.
O site permite ainda informar as pessoas que têm ideias de suicídio sobre o que devem fazer, “que mecanismos de ajuda existem, que possibilidades de amparo e orientação”, assim como inclui aspectos relacionados com as actividades da Sociedade, designadamente, congressos, como aconteceu com o evento que marcou a apresentação do site, o simpósio "Solidão e Melancolia", que decorreu em Beja.
“Outros aspectos que também constam do site são sugestões aos media sobre a forma de lidar com a problemática do suicídio em termos noticiosos. Entre outras questões, conta com o guia da Organização Mundial de Saúde para os media. Aliás, foi também esta a razão que motivou o tema do primeiro simpósio da Sociedade”, recorda Carlos Saraiva.
A Sociedade Portuguesa de Suicidologia existe desde 2000 e o primeiro simpósio realizado foi dedicado aos órgãos de comunicação social. “Agora o site é uma forma da própria Sociedade se manifestar, com um meio tecnologicamente adequado aos tempos modernos, que permite uma divulgação das áreas mais importantes sobre o suicídio e os comportamentos suicidários”, frisa o Presidente daquela sociedade científica.
Carlos Saraiva lembra, a propósito, que existem “dois fenómenos que são correspondentes a dois tipos de comportamentos: um é o suicídio consumado, do qual existem dados mais fiáveis da Organização Mundial de Saúde e do Instituto Nacional de Estatística, para Portugal; o outro comportamento é o para-suicídio que é uma forma de auto-lesão, com comportamentos de manipulação”. Esses números, segundo este responsável que é também professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, “estão também estudados, todavia, é mais difícil a obtenção da verdadeira dimensão deste fenómeno, porque, provavelmente, grande parte deles não são reconhecidos por os indivíduos não recorrerem a serviços de urgência”.
De uma forma global dir-se-á que por cada suicídio em Portugal — e são registados 600 por ano em todo o país — “existem cerca de 40 vezes mais para-suicídios, quando se contabilizam apenas os indivíduos que recorrem a serviços de urgência”.
Assim, este último fenómeno tem sido perspectivado como sendo o mais preocupante em termos epidemiológicos. Como sublinha Carlos Saraiva, “enquanto que a taxa de suicídio tem vindo a diminuir ao longo dos últimos 20 anos, a taxa de para-suicídio tem vindo a aumentar pelo menos nos últimos dez anos, que foi quando nós começamos a contabilizar este fenómeno”.
Para além do aspecto quantitativo, há o qualitativo, “que é mais subjectivo, mas nem por isso deixa de ser menos doloroso para pessoas que em algum momento da sua vida se sentem sós, desamparadas, com a sensação de que não vale a pena viver, sendo desejável que conheçam onde recorrer, o que fazer”.
Daí a importância da criação do site que, além da informação para o grande público, inclui também aspectos científicos, havendo inclusivamente acesso condicionado a partir de determinada altura, conforme o tipo de pessoa que está a tentar procurar informação.
Fonte: Jornal de Coimba online
http://www.jornaldecoimbra.pt/news_detail.asp?id=1957
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