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Parceria da Prefeitura de São Paulo com o CRP-SP combate suicídio
Aumento de casos entre a população jovem motivou surgimento do projeto.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que um milhão de pessoas cometeram suicídio no ano de 2000 em todo o mundo e que ocorre uma morte para cada 10 a 20 tentativas de suicídio. Em todos os países, esta é uma das três maiores causas de morte na população entre 15 e 34 anos. O Brasil vem acompanhando a tendência mundial de aumento deste índice, principalmente entre a população jovem. No município de São Paulo, considera-se que as estatísticas oficiais subestimem a ocorrência de suicídios. Mesmo assim, o suicídio foi a quarta causa de morte na população entre 10 e 24 anos em 2001, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde. No período de 1996 a 2002 foram registrados de 400 a 500 suicídios a cada ano em São Paulo, sendo que 80% deles na população com até 54 anos de idade. Atualmente 66% das mortes por suicídio no Município ocorrem entre pessoas com até 44 anos. Pode-se calcular que todo ano uma média de 10 mil pessoas tentam cometer suicídio no município de São Paulo.
Baseado nesses números preocupantes e em função da iniciativa da OMS para tratar o suicídio como um dos problemas de saúde pública na área de saúde mental, é que o Coordenador da Área Temática de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, Roberto Tykanori, propôs o Plano de Prevenção ao Comportamento Suicida. "Significaria detectar as tentativas de suicídio e não só puramente o suicídio, e oferecer um seguimento, um apoio, ações de saúde para essa população que tenta tirar a própria vida", complementa o Assistente Técnico da mesma área, Leon de Souza Lobo Garcia.
Ele destaca que o Conselho Regional de Psicologia foi chamado para firmar uma parceria com a Prefeitura de São Paulo no projeto. "Queremos tornar o suicídio uma questão de debate para a sociedade como um todo, e o CRP estimula a discussão. Também identificamos que a possibilidade de parceria da Secretaria com o CRP e as faculdades de psicologia seria uma maneira de aumentar a nossa capacidade de absorver a demanda que nós vamos, praticamente, criar. Vamos começar a identificar tentativas de suicídio e precisaremos contar com os recursos das clínicas-escola, das faculdades de psicologia e dos institutos de formação em psicanálise e psicoterapia, não só para atendimento, mas para pensar políticas que contribuam na prevenção dos suicídios", explica Lobo Garcia.
O Plano de Prevenção ao Comportamento Suicida proposto pela Prefeitura tem como principais objetivos reduzir o número de suicídios e comportamentos suicidas no município de São Paulo, diminuir a morbidade associada ao período pós-tentativa de suicídio, nos indivíduos e famílias, identificar o perfil e algumas das condições associadas às tentativas de suicídio na população de São Paulo e, ainda, rastrear os pontos de maior fragilidade do sistema na atenção ao comportamento suicida.
Vale ressaltar que não são apenas os suicídios que significam um sério agravo à saúde coletiva. A morbidade relacionada às tentativas de suicídio para os indivíduos e seus familiares também representa um problema de saúde pública. Os fatores determinantes são múltiplos e de interação complexa. Cerca de 90 % dos casos e 40% das tentativas de suicídio estão associados a transtornos mentais, principalmente depressão e abuso de substâncias psicoativas. "Para pensar o suicídio você precisa pensar não puramente do ponto de vista médico, mas quais são as determinantes sociais", destaca Leon.
Uma das principais ações da proposta da Secretaria seria implantar um programa de busca ativa dos indivíduos que tentaram suicídio, por meio da mobilização dos profissionais de saúde mental, PSF e parceiros da sociedade civil (clínicas-escola e CRP) para garantir um plano de seguimento dos indivíduos que tentam se matar, após receber alta dos serviços de emergência. "O plano será adaptado da proposta da OMS que prevê um calendário mínimo de consultas em 1,2,4 e 7 semanas e 4,6,12 e 18 meses após a alta. Se necessário, estão previstos contato telefônico e visita domiciliar ao paciente", explica Leon de Souza.
O Projeto deverá contar com a participação de centenas de profissionais. "A gente vai mobilizar os recursos da Secretaria de Saúde (profissionais, serviços de emergências, CAPs) para montar uma espécie de central de vigilância de suicídio", informa o assistente técnico. "Nós também já conversamos com o Ministério da Saúde. Foi sinalizado que talvez este possa ser o ponto de partida para uma iniciativa nacional voltada para as grandes metrópoles", comemora ele.
Leon de Souza disse, ainda, que uma espécie de parceria com a Unicamp vai permitir a elaboração de estatísticas, a ter uma idéia de quem são as pessoas que tentam suicídio. "O professor Neury Botega, do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Unicamp será o responsável pelas informações. Hoje ele está à frente de um estudo sobre suicídio, promovido pela OMS em vários lugares do mundo, na tentativa de traçar um perfil dos suicidas e testar a proposta de segmento com busca-ativa. A idéia é aproveitar o know-how do grupo da Unicamp para nos ajudar a fazer a avaliação disso que nós vamos estar implantando numa escala gigantesca em São Paulo. Inclusive já pedimos um financiamento para a Fapesp para viabilizar essa parceria com a Unicamp", informa ele.
Parceria -O Conselho Regional de Psicologia de São Paulo formou uma comissão composta por Maria Ângela Santa Cruz, Felícia Knobloch e Maria Cristina Vicentin para dar resposta à proposta da Prefeitura de implantação do Programa em parceria com clínicas-escola. "A Prefeitura trouxe um perfil de proposta de prevenção traçado a partir de proposições da OMS e de experiências feitas em Campinas, na Unicamp. Tomamos tal proposta como sugestão de um modo possível de lidar com a questão da prevenção do suicídio e nos ocupamos mais em alinhavar um modo como as parcerias Prefeitura-Clínicas/Escola-CRP seriam feitas, já que entendemos que esta pode ser uma excelente oportunidade para iniciar e consolidar a criação de uma rede de atenção à saúde que rompa com a fragmentação e isolamento das ações seja da Universidade e Institutos de Ensino, seja da Prefeitura", informa Ângela Santa Cruz.
O Conselho Regional de Psicologia propõe que as clínicas-escola, ao receber pacientes - identificados como comportando risco de suicídio - tanto por demandas espontâneas, como encaminhados pelas unidades de saúde do SUS: indiquem o paciente a uma unidade de saúde em seu distrito, quando necessário; articulem-se com seu distrito de saúde de referência para garantir a proposta mínima de atendimento sugerida pela OMS; elaborem um projeto clínico singular para cada paciente, articulado a uma unidade de saúde da região, que possa incluir atendimento psicoterápico (individual, grupal, familiar), visita domiciliar, acompanhamentos terapêuticos, trabalho clínico-institucional junto aos equipamentos de referência do paciente (escola, espaços de lazer e cultura, convivência comunitária).
O CRP-SP sugere também a realização de um levantamento de soluções locais, a partir de cada caso, que vinculem os pacientes a recursos da comunidade, mapeamento das instituições de saúde e outras pelas quais essa pessoa transitou e os procedimentos utilizados, a produção de informações a partir de uma ficha padrão de registro - consensuada entre as clínicas-escola, e funcionamento de ponto de articulação, em cada situação particular, com várias instâncias: CVV, distrito, hospital, igreja, clube, escola, família, SUS, etc.
O CRP-SP terá como função promover condições de oferecer suporte clínico-teórico-institucional, à medida da necessidade quando do surgimento de diferentes demandas que podem advir das clínicas-escola, na execução do projeto. Para essa promoção foi sugerida a criação de uma equipe composta por até cinco participantes das diferentes instituições (CRP, CE, SSM) envolvidas no projeto a reunir-se periodicamente. Essa equipe terá como funções articular, integrar, analisar e propor estratégias e dispositivos que alimentem a execução do plano, trabalhando a partir dos problemas concretos detectados no processo de sua implementação.
Para a efetivação da proposta, o Conselho propõe um prazo de seis meses para a realização de um piloto, a partir do qual se faria uma avaliação conjunta para eventuais "correções de rota", tanto do ponto de vista clínico (entende-se por clínico os diferentes dispositivos acionados para a efetivação dos múltiplos projetos clínicos - atendimentos psicoterápicos, apoio familiar, seguimentos telefônicos, reinserção na escola, nos grupos de referência) como do ponto de vista do levantamento epidemiológico realizado até então. A partir desta avaliação e reformulação de rota, seria dado prosseguimento à implementação da segunda parte do projeto, também com um prazo de seis meses para sua execução, quando se faria uma nova avaliação.
Os trabalhos do Plano de Prevenção Ao Comportamento Suicida já começaram por meio de reuniões iniciadas no primeiro semestre de 2003 entre os representantes da Prefeitura, do Conselho Regional de Psicologia e sociedade civil em geral. A expectativa é que as propostas sejam colocadas em prática ainda este ano.
Fonte: Psi Jornal de Psicologia CRP-SP - Núm. 137 Setembro/Outubro 2003
http://crpsp.org.br/a_acerv/jornal_crp/137/frames/fr_um_mundo_melhor.htm
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