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A morte dada a si mesmo
Apesar da região da Guarda não apresentar índices de suicídio elevados, o alerta fica dado: "Na região, que tem aproximadamente 48 mil habitantes, 10% da população deve estar deprimida e 1.500 pessoas devem ter intenção de se suicidar".
"O suicídio é o começo de uma grande mensagem, ninguém se suicida de maneira a que o seu corpo não apareça". Palavras de Carlos Brás Saraiva, professor de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e chefe de Serviço dos Hospitais da Universidade, que, na última semana, proferiu uma conferência intitulada "Suicídio...esse Enigma". A iniciativa partiu do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do Hospital Sousa Martins, no âmbito de um ciclo que tem vindo a promover sobre saúde mental.
Apesar das estatísticas mostrarem que a taxa de suicídios diminuiu, segundo Carlos Saraiva, as tentativas de suicídio estão, por seu lado, a aumentar todos os anos. O para-suicídio é semelhante à tentativa de suicídio, marcando a diferença apenas porque o objectivo principal da pessoa não é a morte, mas sim chamar a atenção de alguém. "É um comportamento apelativo e de desamparo que pode minimizar o suicídio mas que, no fundo, é uma forma de comunicação", diz aquele psiquiatra.
Carlos Saraiva, que é também professor de psiquiatria na Faculdade de Medicina de Coimbra, revelou que há mais casos de suicídio nos homens e mais de para-suicídio nas mulheres, sobretudo, nas adolescentes. O suicídio nos jovens está muitas vezes relacionado, segundo o médico, com o alcoolismo, drogas, perturbações de foro psiquiátrico, perda de capacidades mentais e físicas, bem como situações de crise pessoal.
O especialista acrescenta, ainda, que ao contrário dos jovens, as pessoas de idade não se suicidam para chamar a atenção, mas para "acabar com uma situação que consideram intolerável". Uma das causas apontadas para o suicídio na terceira idade está precisamente relacionado com doençassolidão ou episódios depressivos. O psiquiatra aconselha que nestes casos é preciso "aprender a ouvir o suicida".
A propósito desta problemática dos suicídios e dos para-suicídios, Carlos Saraiva defende que os órgãos de informação têm "um papel muito importante nas estratégias de prevenção do suicídio", a fim de evitar "referir ao pormenor gestos suicidários". E revela como exemplo as dezenas de casos de para-suicídio em adolescentes, após o suicídio do vocalista dos Nirvana, Kurt Cobain. O psiquiatra faz uma crítica à sociedade que, na sua opinião, não fornece alternativas a quem está deprimido e com problemas. "Ninguém diz às pessoas que depois da noite vem o dia, que hoje perde-se, amanhã ganha-se", aponta. "A sociedade não ensina escapatórias, o que leva muitas vezes ao risco do suicídio".
Apesar da região da Guarda não apresentar índices de suicídio elevado, o alerta fica dado. Segundo Carlos Saraiva, nesta "região, que tem aproximadamente 48 mil habitantes, 10% devem estar deprimidos e 1.500 pessoas devem ter intenção de se suicidar".
Fonte: Cristina Santos -
Jornal Nova GuardaMidiativa - 13/06/2001
http://www.novaguarda.pt/130601/g_gua3.htm
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